Segunda-feira de um dia qualquer de 2010, vinte e duas horas...Chove!
João caminha na rua escura. Toma a direção do buteco onde costuma frequentar. Nele, apenas o dono e mais um senhor, que esta sempre por ali. O cumprimenta com a mão a cheiro de cigarro barato. Pede sua cerveja. Se esconde do frio e procura um lugar entre as mesas de sinuca. João toma o seu primeiro gole. Chega um jovem e pede uma dose de pinga raizada. O jovem senta no balcão e vira-se para a TV, que exibe os gols de um campeonato qualquer. João não se interessa. Toma seu terceiro copo. Um vira-lata moribundo senta sob sua cadeira. João joga um gole de cerveja no chão. O vira-lata moribundo não se anima. João não se irrita com a negligência do canino. Vontade de fumar. Se levanta e pede um cigarro ao senhor que esta no balcão. O cachorro moribundo não parece companhia agradável. João volta a se sentar.
Vontade de conversar!
João pega seu celular. Consulta seu saldo e vê que ainda tem 7 reais para gastar. Começa com a letra A. 1ª tentativa: "-Estou com minha filha! Se não eu iria!". 2ª desculpa: "-Minha mãe chegou de viagem!". 3ª: "-Estou a pé e longe daí...". "-Minha namorada vai embaçar!". "-Hoje não posso, vamos tomar quinta?" Não!!! João quer companhia agora!
Continua chovendo!
João levanta e pega a 2ª garrafa! O jovem que toma a raizada lhe oferece um gole. João aceita. O cigarro acaba. A chuva aumenta. João, o senhor e o jovem falam sobre a chuva. O jornal televisivo anuncia tempestades em regiões distantes. João compra um cigarro solto e volta para o seu lugar. Liga para um amigo distante. Quer divagar sobre o que pensavam no ano de 2004 e como a vida esta em 2010. Ninguém atende do outro lado. Os próximos instantes são estáticos. Nada acontece.
3ª garrafa.
O frio some. Segurando seu copo, João fica em pé na porta da frente. Alguém que passa de bicicleta lhe cumprimenta. O jovem da raizada lhe dá um tapa nas costas: "-Adeus, companheiro!" Adeus! João lembra de Deus. "-Esquece, Deus está sóbrio, não vai divagar!". Um carro com universitários estaciona. Eufóricos, compram cigarros e cervejas. Eles ouvem alguma música que fala de "meteoro da paixão"! João queria blues! O senhor também vai embora e ironiza: "-Não vai durmir na rua, João!" A dona do buteco recolhe as mesas. João vira o último copo.
Acaba a cerveja.
João vai embora debaixo da chuva.
Acho que conheço esse João, como toda boa crônica é um alter-ego!
ResponderExcluirqueria conhecer o joão! tomar umas com ele!
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