quarta-feira, setembro 29, 2010

João da Silva Santos


Segunda-feira de um dia qualquer de 2010,  vinte e duas horas...

Chove!

João caminha na rua escura.  Toma a direção do buteco onde costuma frequentar. Nele, apenas o dono e mais um senhor, que esta sempre por ali. O cumprimenta com a mão a cheiro de cigarro barato. Pede sua cerveja. Se esconde do frio e procura um lugar entre as mesas de sinuca. João toma o seu primeiro gole. Chega um jovem e pede uma dose de pinga raizada. O jovem senta no balcão e vira-se para a TV, que exibe os gols de um campeonato qualquer. João não se interessa. Toma seu terceiro copo. Um vira-lata moribundo senta sob sua cadeira. João joga um gole de cerveja no chão. O vira-lata moribundo não se anima. João não se irrita com a negligência do canino. Vontade de fumar. Se levanta e pede um cigarro ao senhor que esta no balcão. O cachorro moribundo não parece companhia agradável. João volta a se sentar.

Vontade de conversar!

João pega seu celular. Consulta seu saldo e vê que ainda tem 7 reais para gastar. Começa com a letra A. 1ª tentativa: "-Estou com minha filha! Se não eu iria!". 2ª desculpa: "-Minha mãe chegou de viagem!". 3ª: "-Estou a pé e longe daí...". "-Minha namorada vai embaçar!". "-Hoje não posso, vamos tomar quinta?" Não!!! João quer companhia agora!

Continua chovendo!

João levanta e pega a 2ª garrafa! O jovem que toma a raizada lhe oferece um gole. João aceita. O cigarro acaba. A chuva aumenta. João, o senhor e o jovem falam sobre a chuva. O jornal televisivo anuncia tempestades em regiões distantes. João compra um cigarro solto e volta para o seu lugar. Liga para um amigo distante. Quer divagar sobre o que pensavam no ano de 2004 e como a vida esta em 2010. Ninguém atende do outro lado. Os próximos instantes são estáticos. Nada acontece.

3ª garrafa.

O frio some. Segurando seu copo, João fica em pé na porta da frente. Alguém que passa de bicicleta lhe cumprimenta. O jovem da raizada lhe dá um tapa nas costas: "-Adeus, companheiro!" Adeus! João lembra de Deus.    "-Esquece, Deus está sóbrio, não vai divagar!". Um carro com universitários estaciona. Eufóricos, compram cigarros e cervejas. Eles ouvem alguma música que fala de "meteoro da paixão"! João queria blues! O senhor também vai embora e ironiza: "-Não vai durmir na rua, João!" A dona do buteco recolhe as mesas. João vira o último copo.

Acaba a cerveja.

João vai embora debaixo da chuva.

sábado, setembro 25, 2010

Relacionamentos Pós-Modernos!

O mundo virtual alterou significativamente os relacionamentos contemporâneos. Veja: um amigo meu conheceu uma pessoa hoje em algum lugar qualquer! Ao chegar em casa, a mensagem pessoal de seu nick no MSN já expressa saudades de um alguém que ele ainda se esforça para lembrar o nome! Amanhã, altera seu perfil no Orkut de "solteiro" para "namorando"! Um dia depois, ainda não contente em sua anunciação amorosa, sua identidade orkutiana revela: "casado" (porra! e a festa de casamento onde eu programa ficar bêbado na faixa?) Pois bem, esse "eu te amo pra sempre" discursado em 01 semana de encontros, termina em eternos 03 meses. E agora, José??? Colocar "separado" no perfil de seu cartão de visitas online, pega mal né?! Vai acabar queimando o filme com os tchulinhos e tchulinhas em potnecial, né? Então, a máxima dos recéns ex-namorados alivia a alma e a mensagem na página inicial: "Solteiro sim, sozinho nunca!"

hhauahauauhahuauh
Me enche de vergonha!!


Rapidinha - Chico Xavier

Uma deixa para quem se inspirou assistindo "Nosso Lar"!!

Linda - e cheirosa! - psicografada!
Acho que também sou meio mêdiunico!

sexta-feira, setembro 24, 2010

Nando Reis fala sobre a corrupção em Dourados - MS



Gostei da parte do bar!!!!!

Diante da situação de Dourados, onde vários representantes foram presos recentemente, gostaria de saber sua opinião sobre como a cultura pode influenciar inclusive dentro de questões políticas.


Eu sou meio cético, eu detesto política, não acredito que haja nenhuma perspectiva de mudar essa má qualidade que os políticos estabeleceram com a sociedade, de onde a gente já não possa acreditar em nada. O fato de Dourados estar sendo palco de mais um escândalo, não faz com que eu pense que tocar em Dourados eu esteja tocando em um lugar maculado. Acho que não. As pessoas, os cidadãos, os estudantes daqui não tem nada a ver com isso.  Então, acho lamentável, acho que Dourados não merecia um prefeito prateado, ou enferrujado. Mas eu não penso nisso, não gosto de política. Só voto porque é obrigado, porque senão estaria num bar, bebendo, e xingando todos os candidatos. (fonte: site da UFGD)

O Coala, a Largatixa e o Baseado

Um  coala estava sentado numa seringueira, curtindo um baseado.....
Uma lagartixa passava e, olhando para cima, disse:
'E aêêê Coala...tudo belê? O que tá fazendo?'
O coala disse: 'Queimando um . Sobe aê'.

A lagartixa subiu na seringueira e sentou-se ao lado do coala, curtindo alguns baseados.
Após algum tempo, a lagartixa disse: Pô cara,minha boca tá seca,vou tomar água no rio....
A lagartixa meio desorientada, se inclinou muito e caiu no rio.
Um jacaré a viu cair e nadou até ela, ajudando-a a subir na margem.
Depois ele perguntou: Qual é a sua, lagartixa? O que aconteceu? Quer morrer?
A lagartixa explicou que ela estava curtindo um baseado com o coala numa seringueira,
ficou zuadinha e caiu no rio enquanto tomava água.
O jacaré, querendo verificar esta estória, entrou na floresta e,
encontrou o coala sentado num galho, chapadão.

O jacaré olhou para cima e disse:
'Ei! Você aí em cima!'

O coala olhou para baixo e disse:

'PUTA-QUE-PARIU, lagartixa, tu bebeu água pá caraio véééi!

Rapidinha - Recontando a estória da Chapeuzinho Vermelho

Se práticas culturais, mitos e blá, blá, blá são sempre resignificados...eis como poderia ressurgir a Chapeuzinho Vermelho pós-moderna:



quinta-feira, setembro 23, 2010

Rapidinha - Deus bêbado!!

Anunciação de uma quinta-feira: terás vontades de beber, mas terás que estudar...
Ao menos se eu fosse Deus nessas horas, me divertiria mais um pouco...


quarta-feira, setembro 22, 2010

Pior que serviço burocrático???

Tem gente ouvindo rádio agora, perto de mim!!! E pior do que ter que executar serviços burocráticos até as 17h, é "executar serviços burocráticos ouvindo !@#$%¨&* FM"!
Porra, nem pra ter aqui na cidade uma rádio espiríta que encarnasse o Wood Stock e fizesse mais sucesso que a !@#$%¨&* FM!!!
E, lembrei-me dum email que recebi, em 2009, duma amiga de médias datas, cuja indignação se repete quase um ano depois em mim!!!
Abaixo, na integra, o email! hehe


E aquele abraço para a rementente do email!



• Assunto: Bom Dia Você!‏
De: mh@hotmail.com)
Enviada: quinta-feira, 1 de outubro de 2009 12:37:45
Para: ggs@hotmail.com

1º de outubro, quinta-feira, manhã de sol ameno, poucas nuvens salpicam o céu azul.
E alguém ligou a merda do rádio na porcaria do meu trabalho, por que deve sair alguma cotícia da da escola em que trabalho. Rádio pela manhã faz com que eu me lembre de qdo eu era pequena e uma tia ficava comigo pelas manhãs eu acordava todos os dias ouvindo padre marcelo rossi. Ela sempre deixava um copo d'água ao lado do rádio, para que no momento que ele fosse realizar a benção a água que estava no copo, saída da torneira da cozinha da minha casa torna-se Benta. O que a tecnologia, quem sabe o papa não resolve mandar umas óstias por e-mail.

O radialista que ouço hoje, tenho certeza fumou um! Tem mais de 5 minutos que ele esta dando "Bons dias". Cumprimenta tudo e a todos "Bom dia Mato Grosso do Sul, bom dia você dona de casa, bom dia pássaros (eu juro ele falou isso, tah viajando a erva era da boa) Bom dia professor, Bom dia aluno, bom dia universitário, Bom dia mato grosso do sul (umas 15 vezes pelo menos), Bom dia sol, Bom dia delegado" Cara ele nem pra me dar um tapa... Hunf...

terça-feira, setembro 21, 2010

Rapidinha - E se Eva se chamasse Magali???

O que faria Deus???


Rapidinha - A Moral da Santa Igreja Católica!

O Banzo no fim duma jornada!!


O meu cordel estradeiro / Vem lhe pedir permissão / Pra se tornar verdadeiro / Pra se tornar mensageiro / Da força do teu trovão

E o meu cordel estradeiro / É cascavel poderosa / É chuva que cai maneira / Aguando a terra quente / Erguendo um véu de poeira / Deixando a tarde cheirosa / É planta que cobre o chão / Na primeira trovoada / A noite que desce fria / Depois da tarde molhada / É seca desesperada / Rasgando o bucho do chão

É inverno e é verão / É canção de lavadeira / Peixeira de Lampião / As luzes do vaga-lume / Alpendre de casarão / A cuia do velho cego / Terreiro de amarração / O ramo da rezadeira / é banzo de fim de feira / Janela de caminhão


Vocês que estão no palácio
Venham ouvir meu pobre pinho
Não tem o cheiro do vinho
Das uvas frescas do Lácio
Mas tem a cor de Inácio
Da serra da Catingueira
Um cantador de primeira
Que nunca foi numa escola


Pois meu verso é feito a foice
Do cassaco cortar cana
Sendo de cima pra baixo
Tanto corta como espana
Sendo de baixo pra cima
Voa do cabo e se dana

(Cordel Estradeiro)




segunda-feira, setembro 20, 2010

Rapidinha - E não é que acontece mesmo...






Pensamentos soltos...Caio Fernando de Abreu

Incrivelmente, acordei nesta segunda sem ressaca. Meu domingo, como manda o doutrinário de um domingo verdadeiramente tradicional, foi tedioso, gordo e lento. Nem mesmo meu cachorro, com seu rabo abanando na porta da sala, viu-me com a cara amassada. Vaguei entre meu quarto, a sala e a cozinha: ora lendo, ora assistindo, ora comendo. E quase sempre tomando café! O espiríto boêmio - que como eu já disse se chama Zé Boêmio na religião que tô criando - não apareceu! Mas, ao contrário do que muitos possam pensar, domingo bom foi o meu! Quase nunca paro para me sentir. Quase nunca me olho no espelho! Quase nunca tenho tempo pra cortar minhas unhas! Quase nunca fico no silêncio ao ponto de ouvir meus pensamentos! Quase nunca arrumo meus cd's, meu quarto, os livros...Nunca percebi que o vento faz um barulho cavernoso no fundo da minha casa. E tudo isso fiz, senti, ouvi...Ok! E agora chega! Já me bateu a nostalgia do que acontece lá fora! É segunda-feira e, pra tornar mais leve a semana que se anuncia, li alguns pensamentos de Caio Fernando  Abreu!!!




Neste exato momemto tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva.
Tenho achado viver tão bonito.
Relaxa baby e flui: barquinho na correnteza, Deus dará.
A vida é agora, aprende.
Sempre há alguma coisa que falta.
Guarde isso sem dor, embora, em segredo, doa.
Loucura, eu penso, é sempre um extremo de lucidez.
Um limite insuportável.
As palavras traem o que a gente sente.
E eu continuo batendo batendo batendo batendo batendo nessa porta que não abre nunca.
Precisa sofrer e morrer muitas vezes por dia para sentir-se vivo.
O tempo que temos, se estamos atentos, será sempre exato.
Amor aos montes, por todos os cantos, banheiros e esquinas.
Ando com uma felicidade doida, consciente do fugaz, do frágil.
Rindo da ingenuidade, tentando penetrar em sua intimidade.
Fico pensando se viver não será sinônimo de perguntar.
Não sei, deixo rolar.
Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração, eu sigo.
Abraçe a loucura antes que seja tarde demais.
Ando bem, mas um pouco aos trancos.
Como costumo dizer, um dia de salto 7, outro de sandália havaiana.
Preciso pegar minhas coisas e partir.
Viajar, esquecer, talvez amar.
Te desejo um monte de fé, em qualquer coisa, não importa o quê.
Não sei fazer jogo social.
Até saberia, mas não me interessa, tenho preguiça.
Tenho amigos tão bonitos.
Temos esperanças novinhas em folhas, todos os dias.
Não estou fazendo nada de errado, só estou tentando deixar as coisas um pouco mais bonitas
Incrível é encontrar o não procurado.
Achando o que não está perdido.
Matando as vontades nunca sentidas.
Sentir sede faz parte.
E atormenta.
A gente se entrega nas menores coisas.
Pare de sonhar coloridices.
Faz tempo que não invento meus própris dias.
Apanhe todos os pedaços que você perdeu nessas andanças e venha.
Porque o mundo apesar de redondo, tem muitas esquinas.
Pensamentos, como cabelos, também acordam despenteados.



sexta-feira, setembro 17, 2010

Rapidinha - Siga-me!!

É o mundo virtual alterando as relações
de poder...hehehe!

Rapidinha - Sol de sexta

Após uma madruagada amarga de estudos, o sol nascente de sexta-feira me feriu os olhos! Desejava meu corpo permanecer esparramado sobre a minha cama que, convidativamente, estava ali: quente, aconchegante e sonolenta.

Era Uma Vez - Paulo Leminski

o sol nascente
      me fecha os olhos

até eu virar japonês

quinta-feira, setembro 16, 2010

Gente autorizada pra falar de bosta!!

Se me criticaram por falar de uma "cagada" anteriormente, então, trago-lhes um sujeito bem mais (infinitamente mais) legitimado para falar dessas coisas: Um poema de Paulo Leminski. Com certeza, esse sujeito tem mais autoridade pra falar de "bosta" do que eu. Ao menos, pra falar disso ele é mais poético. (Este post não tem imagem para não ser muito nojento...hehe)

Merda e ouro (Paulo Leminski)


Merda é veneno. / No entando, não há nada / que seja mais bonito / que uma bela cagada. / Cagam ricos, / cagam padres, / cagam reis e cagam fadas. / Não há merda que se compare / à bosta da pessoa amada.

Culpa do Zé Boêmio!!!



Se era hoje um dia destinado às cores cinzentas de um tédio proveitoso, então, tal destino fora frustado. Agora é um dia destinado ao vermelho das faces coradas, envergonhadas e arrependidas! Mas, calma! Calma! Não aconteceu nada grave!
Acontece que, durante o meu horário de almoço, aqui mesmo no meu trabalho, resolvi "levar um amigo meu do interior pro rio" (ou fazer montinho, soltar um barrão, etc. As variações das expressões para o ato de cagar são infindáveis nesse Brasil de meu Deus!!!) e, não sei porque cargas d'aguas deixei a porta do banheiro aberta. Arriei as calças, minha cueca nova ainda sem manchas de freadas, sentei-me no vaso gelado, comecei a ler a revista que acabara de comprar (Rev. de História da Bib. Nacional) e, enquanto achava-me no "meu 1 minuto intelectual do dia" um batalhão de mulheres (universitárias gostosas, por sinal!!!) passaram em marcha em frente a porta da minha privada (que de "privada" não tinha nada)! Quando olharam para mim, naquele momento intímo e pessoal, algumas sairam correndo, outras ficaram a observar atônitas...Mas, todas, todas, gargalharam!!!

Ao me levantar para fechar a porta, a revista que outrora era alimento para o meu conhecimento, tornou-se a "folhinha que cobria as vergonhas de Adão"!

Depois daqueles eternos 05 segundos, não consegui mais obrar, não consegui mais ler, não consegui mais estudar!! O que ocupa meus pensamentos são aquelas gurias que, fervorosamente rezo,  nunca mais as veja ou que, no mínimo, que elas tenham se ocupado em olhar outros membros do meu corpo que não o meu rosto!!! Esta é minha petição ao meu Senhor!!

E falando em Senhor, acho que o culpado disso tudo foi o Zé Boêmio (entidade benigna duma religião que tô inventando) que, ontem, sabendo de minha devoção às suas santas práticas etílicas, arrebatou-me da sala de aula e, milagrosamente, levou ao seu Templo (buteco?), onde, juntamente com outros devotos de seus ensinamentos, compartilhamos do suco de cevada (Bebeis isso em memória de mim!)!

Acontece que, como efeito colateral, o santo suco de cevada do Zé Boêmio, deixa-nos um pouco lentos, desligados...Efeitos dos quais, creio eu, foram os motivos do meu lapso durante o meu "amontadinho"!!!

Mesmo assim, viva o Zé Boêmio!

Dia Cinza..

Se o meu dia hoje for cinza, não me importarei. Os altos, os baixos e os medianos fazem parte da minha escala que tornam meus dias mais interessantes...


O que me irrita / é essa obrigação de ser feliz. /É essa pretensão de sempre vermos cores em tudo, /de apreciarmos os amanheceres, /de nos encantarmos com cantos, de nos divertirmos com crianças pelas ruas, / de pularmos carnaval, / de acharmos singela a ignorância alheia. / O que me irrita / é essa indecência que é assumir frustrações. / É essa incapacidade de nos assumirmos limitados. / Essa alegria toda, por conveniência. / Essa baboseira em que nos tornamos. / O que me irrita / é essa futilidade em que se tornou
 o ato de sentir. (Poema do dia)


quinta-feira, setembro 02, 2010

Buteco ruim é bom, bicho!

Refletindo sobre motivos, não somente etílicos, mas também meta-físicos, meta-sociológicos ou meta-qualquer coisa (hã?! hã?!) que me fazem apreciar um buteco, encontrei este pequeno texto de Antônio Prata que, antropologicamente, descreve e analisa o porquê "buteco ruim é lindo!"


Buteco ruim é lindo, bicho!!!

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).


No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.

– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).

– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

Rapidinha - Filosofia de Bêbado