quarta-feira, março 14, 2012

Sobre o tempo...

presente de aniversário...

Sobre o tempo (ou Do Complexo de Peter Pan)


“Chega um momento na vida em que nós nos perguntamos quem somos e o quê estamos nos tornando. A gente olha pro lado e vê todos embarcando na trajetória linear da vida. A gente vê nossos irmãos trabalhando, casando e tendo filhos (não necessariamente nessa ordem). A gente vê nossos pais e percebe o quanto somos eles. A gente vê nossos amigos (os poucos que restaram!) cada vez mais distantes. A gente sente o peso do tempo tendo o outro como parâmetro. E os sonhos juvenis? E os utópicos sonhos revolucionários de agrupar forças fraternas para a transformação do mundo? Será que foram diluídos no álcool dos bares que outrora serviam de templo dos sonhos de uma juventude que se foi precocemente? Será a vida adulta esse emaranhado de responsabilidades, compromissos e cobranças que tende a afastar o ócio vigoroso e demasiadamente humano que nos faz refletir sobre o que pensamos, sentimos e agimos? Não sei. Só sinto que nada sei e que, por sentir, existo! Há tempos me pus estranho no mundo. Há tempos vejo o que não quero ver. Há tempos ouço o que não quero ouvir. Há tempos penso o que não quero pensar. Há tempos faço o que não quer fazer. Há tempos minha condição humana é questionada num mundo em que tudo tem um preço, pode ser substituído ou descartado. Há tempos me sinto sozinho. Sozinho da família. Sozinho dos amigos. Sozinho do trabalho. Sozinho de mim mesmo. Sozinho de quem eu já fui e sozinho daquilo que serei. Sozinho presente. A solidão da solidão: vazio de mim mesmo. Enquanto todos passam rapidamente como o barulho dos despertadores, sinto meus passos cadenciados, nostálgicos, incertos e profanos. Passos que passam sem deixar pegadas. E o caminho? O caminhar tem sido ofegante, desmotivante, desconstituinte: caminhar-mercadoria. E chega o menestrel para ministrar a trágica certeza: no final não dará tudo certo! O projeto da modernidade não se sustenta numa realidade de tantas ruínas e incertezas. Mas caminho. Caminho para me encontrar. Caminho para me perder. Caminho por caminhar. Caminho para encontrar e recordar flores e pedras. Caminho para ser caminhante e, sendo caminhante, poder encontrar o poeta e entender que não há caminho: o mesmo se faz ao caminhar...(Washington Nozu)

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