quinta-feira, março 15, 2012
quarta-feira, março 14, 2012
Sobre o tempo...
presente de aniversário...
“Chega um momento na vida em que nós nos perguntamos quem somos e o quê estamos nos tornando. A gente olha pro lado e vê todos embarcando na trajetória linear da vida. A gente vê nossos irmãos trabalhando, casando e tendo filhos (não necessariamente nessa ordem). A gente vê nossos pais e percebe o quanto somos eles. A gente vê nossos amigos (os poucos que restaram!) cada vez mais distantes. A gente sente o peso do tempo tendo o outro como parâmetro. E os sonhos juvenis? E os utópicos sonhos revolucionários de agrupar forças fraternas para a transformação do mundo? Será que foram diluídos no álcool dos bares que outrora serviam de templo dos sonhos de uma juventude que se foi precocemente? Será a vida adulta esse emaranhado de responsabilidades, compromissos e cobranças que tende a afastar o ócio vigoroso e demasiadamente humano que nos faz refletir sobre o que pensamos, sentimos e agimos? Não sei. Só sinto que nada sei e que, por sentir, existo! Há tempos me pus estranho no mundo. Há tempos vejo o que não quero ver. Há tempos ouço o que não quero ouvir. Há tempos penso o que não quero pensar. Há tempos faço o que não quer fazer. Há tempos minha condição humana é questionada num mundo em que tudo tem um preço, pode ser substituído ou descartado. Há tempos me sinto sozinho. Sozinho da família. Sozinho dos amigos. Sozinho do trabalho. Sozinho de mim mesmo. Sozinho de quem eu já fui e sozinho daquilo que serei. Sozinho presente. A solidão da solidão: vazio de mim mesmo. Enquanto todos passam rapidamente como o barulho dos despertadores, sinto meus passos cadenciados, nostálgicos, incertos e profanos. Passos que passam sem deixar pegadas. E o caminho? O caminhar tem sido ofegante, desmotivante, desconstituinte: caminhar-mercadoria. E chega o menestrel para ministrar a trágica certeza: no final não dará tudo certo! O projeto da modernidade não se sustenta numa realidade de tantas ruínas e incertezas. Mas caminho. Caminho para me encontrar. Caminho para me perder. Caminho por caminhar. Caminho para encontrar e recordar flores e pedras. Caminho para ser caminhante e, sendo caminhante, poder encontrar o poeta e entender que não há caminho: o mesmo se faz ao caminhar...(Washington Nozu)
terça-feira, março 13, 2012
Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida. .. Isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância.
Solidão é muito mais do que isto.
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma...
Francisco Buarque de Holanda
quinta-feira, março 08, 2012
quarta-feira, março 07, 2012
terça-feira, março 06, 2012
segunda-feira, março 05, 2012
sábado, março 03, 2012
Aos dias brancos
Esse dia, eu ofereço para aquele dia branco.
Aquele dia branco feito domingo.
Que eu sigo de longe, atrás da brisa.
Aquele pelo qual eu bordo minha camisa.
Esse dia feito domingo, pai da noite e do dia.
Aos meus dias brancos e tortos.
fonte: música: Dia Branco - Alceu Valença
João voltando...tudo novo de novo!!!
BAR RUIM É LINDO, BICHO!
Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.
– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.
O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).
– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?
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