quarta-feira, abril 27, 2011

Ah, me socorre que hoje eu não quero fechar a porta com esta fome na boca, beber um copo de leite, molhar planas, jogar fora jornais, tirar o pó dos livros, arrumar discos, olhar paredes, ligar-desligar a tevê, ouvir Mozart [ou um Floyd?] para não gritar e procurar teu cheiro outra vez no mais escondido do meu corpo, acender velas, saliva tua de ontem guardada na minha boca, trocar lençóis, fazer a cama, procurar a mancha de esperma nos lençóis usados, agora está feito e foda-se, nada vale a pena, puxar as cobertas, cobrir a cabeça, tudo vale a pena se a alma, você sabe, mas a alma existe mesmo?

(...) e amanhã não desisto: te procuro em outro corpo, juro que um dia eu encontro.
Não temos culpa, tentei. Tentamos. (Caio F. do conto Anotações sobre um amor urbano)

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