O pedagogo, poeta, filósofo e teólogo Rubem Alves refletiu dessa maneira, quando um aluno da UNICAMP lhe perguntou: "Como é que o senhor planejou a sua vida para que cheagasse aonde chegou?":
"Eu estou onde estou porque todos os meus planos deram errado. As pontes que eu construía para chegar aonde eu queria ruíam uma após outra. Eu era então obrigado a procurar caminhos não pensados. Fui literalmente obrigado a fazer o que não queria.
Por exemplo: meu pai, homem rico, foi à falência. Ficou pobre. Se isso não tivesse acontecido, é provável que hoje eu fosse um rico fazendeiro guiando uma F 1000 e contabilizando cabeças de gado.
Quando me mudei para o Rio de Janeiro, aos 12 anos de idade, menino do interior de Minas com um sotaque caipira, fui objeto de zombarias e chacotas. Nunca me senti tão sozinho. Nunca fui convidado a ir à casa de um colega...Mas foi esse espaço de solidão na minha alma que me fez pensar nas coisas que de outra forma eu não teria pensado.
Lutei muito para ser pianista. Se tivesse dado certo, eu seria hoje um pianista medíocre. Pianista bom não precisa fazer força. É dom de Deus...
Fui pastor protestante e é provável que, se tudo tivesse acontecido os conformes, eu hoje fosse um clérigo velho. Mas veio o golpe militar, fui acusado de subversivo peas zelosas e bondosas autoridades da igreja. Fui obrigado a me mudar para os EUA, onde fiz meu doutoramento, fiz amigos novos, viajei, conheci lugares, acampei, li e pensei.
Cheguei onde estou por caminhos que não planejei. Nunca me passou pela cabeça que eu seria escritor.
Plantei árvores, tive filhos, escrevi livros, tenho muitos amigos e, sobretudo, gosto de brincar. Que mais posso desejar?"
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